Tratativas começaram em encontro entre Antônio Álvares Lobo, Franz Müller e Sebastião Antas de Abreu
O dia 15 de março de 1902 é considerado o início da trajetória que transformou a então vila dos americanos, na época disputada por Campinas e Santa Bárbara d’Oeste, em um município, hoje chamado de Americana, cuja emancipação completa 100 anos nesta terça-feira.
Para contar essa história, é necessário fazer um exercício de imaginação e se colocar na pele de Antônio Álvares Lobo, cuja influência foi fundamental para esse processo.
No início do século 20, os principais meios de transporte entre cidades eram os trens da Companhia Paulista. Naquele 15 de março, Antônio Lobo pegou o expresso de Campinas, e após cerca de uma hora de viagem, desceu na Estação Santa Bárbara, que já tinha ao seu redor um comércio pujante, moradores e intensa movimentação de pessoas.
Dali, ele pegou outro meio de locomoção – os mais comuns na época eram as charretes – e foi até a Fábrica de Tecidos Carioba, dentro da vila homônima, que estava sendo reinaugurada após ser adquirida em leilão pelo alemão Franz Müller.
Estavam no mesmo local, portanto, um dos empresários mais importantes da história de Villa Americana (Müller), um relevante político do Partido Republicano Paulista (Antônio Lobo) e outro influente comerciante, ativista e futuro subprefeito de Campinas, o português Sebastião Antas de Abreu.
“Ali eu vejo como um pacto de homens. Os Müller mostram que estavam vindo aqui, investindo dinheiro para caramba, e dizem ao Antônio Lobo, que era influente: ‘como podemos nos unir para a mudar a nossa realidade?’”, comentou o historiador André Maia, que está escrevendo um livro sobre a emancipação de Americana.
Esse pacto foi colocado à prova, por muitos anos, nas discussões que aconteciam em uma venda de Sebastião, ao lado da Estação Santa Bárbara.
O primeiro passo político foi a elevação, em 30 de julho de 1904, como Distrito de Paz de Campinas. Isso definiu que os impostos e os processos jurídicos daquele aglomerado iriam para o município e para a Comarca de Campinas, respectivamente. A área da vila também foi delimitada.
Por sua vez, como distrito, Villa Americana pôde ter acesso a serviços importantes e que, mais tarde, se tornariam requisitos para virar uma cidade: cemitério, cartório de registro civil e subprefeitura, que ficava próxima à atual Praça Comendador Müller.
“O Cemitério da Saudade foi inaugurado em terras doadas por Sebastião. Isso é fundamental, porque as pessoas passaram a enterrar familiares ali. Há uma construção do sentimento de pertencimento”, disse André.
A “lua de mel” com a Prefeitura de Campinas, no entanto, durou pouco. Os villamericanenses começaram a ficar insatisfeitos com a demora para promover melhorias no local ao mesmo tempo em que a administração campineira frequentemente arrecadava impostos acima do esperado.
Havia, ainda, uma certa indignação com essa “relação de dependência”, que era explicada com o desenvolvimento de dois polos: um próximo à Estação Santa Bárbara e outro em Carioba – que contava com uma hidrelétrica.
Por fim, uma epidemia de impaludismo (malária) em 1917, que segundo jornais da época foi ignorada por Campinas, inflamou os villamericanenses. Naquele mesmo ano, em novembro, Antônio Lobo protocolou na Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo um projeto para transformar a vila em município.
“A vila arrecada até 70 mil contos de réis, enquanto vinha 30, 40 mil em benfeitorias. Com esse tanto de coisa acontecendo, o villamericanense pensava: ‘ainda estou pisando na lama, não tenho água, não tenho rede de esgoto’”, contou André.
A emancipação foi oficializada em 12 de novembro de 1924, após notificação recebida pelo então subprefeito Flávio Lopes, e publicada no Diário Oficial do Estado de 15 de novembro. O primeiro prefeito eleito foi Jorge Gustavo Rehder.
Prefeitura e câmara celebram centenário da emancipação
A prefeitura e a câmara de Americana vão realizar solenidades nesta terça-feira (12) para celebrar o centenário da emancipação do município.
No Executivo, o evento acontecerá às 8h30, no Paço Municipal, localizado na Avenida Brasil, no Centro. O atual prefeito Chico Sardelli (PL) irá discursar e também será feito o descerramento de uma placa alusiva à data, que ficará afixada no local.
Por sua vez, no Legislativo, a cerimônia começará antes da sessão, às 14h, e contará com a participação de Azael Álvares Lobo Neto, que é bisneto de Antônio Álvares Lobo – um dos responsáveis pela emancipação.
Uma galeria com fotos e documentos será inaugurada no corredor que dá acesso ao plenário. A iniciativa contou com pesquisas e trabalhos da própria câmara e do historiador André Maia. G.P.
Fonte: Por Gabriel Pitor